segunda-feira, 4 de abril de 2011

Brincadeira


Brincadeira é coisa séria !



“Não era só brincadeira,
era aprender para a vida inteira.
Se fizemos errado, o importante é que fizemos.
De tudo isso, algo aprendemos.
...
E de brincadeira em brincadeira
Juntos crescemos
Por fora e por dentro,
No pensar, no agir, no sentimento.”
(Fragmentos da poesia “Rei, rainha, lobo, vovózinha” de Josiane A. Vieira.)






Necessitamos propiciar a brincadeira por meio de atividades lúdicas, a fim de estimular o desenvolvimento da curiosidade, imaginação, expressão e criação. Devemos procurar garantir a brincadeira como principal eixo para as vivências, construção e ampliação de conhecimentos e também, apropriação de sentimentos.
Ao falarmos nas especificidades da educação infantil destacamos a função pedagógica educativa. Partindo da concepção sócio- interacionista, criança e conhecimento se criam e se transformam na interação social. Aprendizagem, ensino e desenvolvimento são processos distintos que interagem dialeticamente. Não existem de forma independente, mas possibilitam a conversão de um no outro, isto é, a aprendizagem promove o desenvolvimento e este anuncia novas possibilidades de aprendizagem. Mas sem a presença de parceiros (para a troca, interação) a aprendizagem não é possível, porque o conhecimento passa necessariamente pela mediação do outro. (MACHADO, 1994:29)
Precisamos perceber o faz-de-conta como um eixo das interações sendo o recurso didático- pedagógico mais ‘apropriado’ para a instituição de educação infantil, visto que a atividade da infância é, por excelência, o brincar. Mas não basta o faz-de-conta por si só, o seu uso deve revelar uma intencionalidade educativa.
Entende-se que brincando a criança pode representar assumindo diferentes papéis com os quais tem relação no seu cotidiano auxiliando-a a se compreender melhor no mundo e compreender melhor os outros. Quando brinca de faz-de-conta, ela age de acordo com regras de comportamento que se reportam a situação da brincadeira e lhe permitem adentrar no mundo adulto.

A vivência do faz- de- conta precisa ser garantido na instituição de educação infantil. Precisamos resgatar o lúdico e o imaginário a fim de proporcionar às crianças momentos e situações significativas.
A brincadeira não pode ser vista, portanto, como um momento ‘a parte’. Deve ser um momento planejado, estruturado, com alguma(s) intencionalidade(s) pré- definida(s). A brincadeira não pode ser vista apenas como um ‘passatempo’, dentro de uma rotina rígida que incorpora atividades dirigidas e cuidados à criança.
Torna-se necessário considerar a faixa etária das crianças e sempre nos questionarmos, enquanto educadores, quanto ao papel que o brincar assume perante nosso grupo de crianças. Que tipo de vivências, ou melhor, conflitos sociais as crianças acabam por representar a partir destas ações lúdicas, deste brincar?
A partir da brincadeira a criança passa a conhecer e compreender melhor o seu cotidiano. Brincando de faz-de-conta as crianças adquirem conhecimentos, compreendem cada vez mais a complexidade do comportamento humano. Aprendem a conhecer-se a si próprios e aos outros. Quando brinca, pode satisfazer muitos desejos relacionados ao mundo físico, social e cultural à sua volta. Neste sentido são as palavras de LIMA:
“As crianças brincam porque gostam de brincar, gostam de brincar porque a brincadeira é o melhor instrumento para a satisfação das necessidades que vão surgindo no convívio diário com a realidade. Desde muito pequena a criança se depara com um mundo objetivo em permanente expansão no qual atua e que tenta conhecer, saber como funciona, e com um mundo social, de relações e sentimentos, com o qual se relaciona enquanto se esforça na construção da identidade.” ( 1990:12)
É preciso reconhecer as especificidades da instituição de educação infantil, na qual o brincar deve ser garantido, oportunizando a exploração do mundo e suas relações de forma significativa. Valorizamos a proposta da SME quando afirma que é preciso: “... garantir que as crianças possam brincar diariamente, valorizando a brincadeira como uma atividade sócio- cultural importante que caracteriza e garante a experiência da infância...” (1996:21).
A interação com o outro proporcionada pela brincadeira é de fundamental importância, pois ao brincarem as crianças criam regras que permeiam o desenvolvimento do enredo do faz-de-conta. As egras ficam explícitas e a criança passa a exercitar sua atitudes “adaptando- as” às do colega.

Este processo contribui na compreensão do cotidiano. Na medida em que proporcionamos um maior espaço para estas interações a partir de brincadeiras, talvez conseguíssemos lidar com estes preconceitos tão vivos entre as crianças, de forma ‘natural’, quebrando- os na medida em que as mesmas as compreendesse ao lidar com estes através de representações durante o ato de brincar. Neste sentido são as palavras de WAJSKOP: “Vygotsky apontaria o brinquedo como prenúncio do pensamento adulto abstrato, pois através do confronto de diferentes idéias a respeito das coisas e na acomodação de algumas regras as crianças vão desenvolvendo o que ele considera imaginação.” (1988:48)
Brincando a criança pode representar assumindo diferentes papéis com os quais tem relação no seu cotidiano. Uma forma de auxiliá-la a se compreender melhor no mundo e compreender melhor os outros, é possibilitar que a criança vivencie estes papéis. Por exemplo, quando as crianças brincam de salão de beleza vivenciando papéis de manicure, cabeleireira e clientes, agem de modo parecido ao que observaram destes papéis no contexto real, fazendo um “esforço” para desempenhar com fidelidade aquilo que observavam na realidade. “(...)no brinquedo a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade, além de seu comportamento diário: no brinquedo é como se ela fosse maior do que é na realidade.” (VYGOTSKY apud REGO, 1995: 82)
Estas situações “criam uma zona de desenvolvimento proximal, na medida em que impulsionam conceitos e processos em desenvolvimento”(REGO, 1995:83) e proporcionam o desenvolvimento, ampliação e construção de conhecimentos. Em outras palavras, a brincadeira possibilita e auxilia na formação de conceitos . “Na perspectiva vygotskiana, os conceitos são entendidos como um sistema de relações e generalização contidos nas palavras e determinado por um processo histórico cultural” ( REGO,1995:76)
Atualmente muitas brincadeiras vivenciadas por nossas crianças à princípio não possuem um enredo, o que nos mostra que elas não têm a prática de brincar. É preciso reaprender a brincar... E a maneira mais adequada para isso é que o educador brinque junto com eles representando diversos papéis, criando e recriando enredos, despertando a prática e a possibilidade de brincar.


Para pensar a brincadeira é preciso necessariamente nos remeter para o contexto em que ela ocorre: tanto o espaço, quanto os materiais disponíveis interferem na brincadeira quando esta ocorre em espaços de educação coletiva. Em função disso, além de construir enredos é necessário trabalhar a relação que as crianças têm com os materiais e brinquedos, afim de que os usufruam com prazer e responsabilidade.
Um dos papéis mais triunfantes e necessários do educador é a “criação” de condições para a brincadeira, seja (re)organizando o espaço, acrescentando ou tirando materiais, interagindo com as crianças, enfim... Aos poucos o espaço vai se transformando e junto com este as brincadeiras começam a surgir com mais freqüência na sala, contribuindo na consolidação do grupo.

Escrito por Janina Stumm Moritz

Nenhum comentário:

Postar um comentário