segunda-feira, 4 de abril de 2011

Espaço organizado para favorecer brincadeira!



Vamos brincar neste novo espaço?

Estudos apontam que a organização do espaço da sala de trabalho, dependendo da maneira como estão dispostos os materiais objetos e móveis, pode (ou não) influenciar o desenvolvimento das crianças. Se o espaço for planejado e organizado em função das crianças de maneira a lhes propiciar a brincadeira, autonomia, interações, acaba possibilitando seu desenvolvimento e a ampliação e construção de conhecimentos. Ao contrário, pode impedir o desenvolvimento destes aspectos. A organização do espaço desta forma pretende tirar o adulto do centro do processo e permitir que as crianças brinquem concomitantemente com diferentes materiais sem precisar necessariamente da presença do adulto. Estruturando o espaço da sala este fica mais agradável: as crianças aproveitam mais este espaço para brincar, ao mesmo tempo em que as regras vão estabelecendo-se o grupo vai se constituindo...
“Para que se possa contribuir na formação de crianças críticas, criativas e autônomas, a organização do espaço torna-se uma estratégia fundamental.” (MORITZ, 1997)
Segundo ABRAMOWICZ & WAJSKOP, “um espaço pensado e previamente preparado para um determinado grupo auxilia a atividade autônoma e cooperativa das crianças. Um espaço planejado e organizado é mais prazeroso”(1995:37).
Ao pensar o espaço adequado para propiciar a brincadeira, devemos buscar alternativas para não cairmos no “modismo” de fazer sempre os mesmos cantos ( da casinha, do salão de beleza) já tão presentes nas instituições. Chamo de modismo, porque algumas críticas têm sido feitas a estes “cantos oficiais” que acabam revelando uma forma estereotipada de divisão da brincadeira contribuindo para a consolidação de alguns preconceitos que estabelecem à priori do que podem ou não brincar meninos e meninas.
Como educadores devemos oferecer a possibilidade de que meninos e meninas possam brincar e explorar o espaço e materiais rompendo inclusive com uma visão sexista de divisão de atividades, em que às mulheres servem as atividades domésticas e mais calmas e aos homens as atividades mais amplas e rudes. O estereótipo social de que meninos correspondem a cor azul e meninas cor de rosa, deve ser rompido.
Devemos também tentar superar a visão feminina na organização do espaço da sala, pois é preciso adequar o espaço considerando que será utilizado por dois gêneros: os meninos também estarão brincando! Materiais como aparelho de gilete (sem a gilete), pincel de barbear e panelas azuis podem e devem ser introduzidas na sala. Meninos podem brincar com batons e panelas, meninas podem brincar com carrinhos e subir em árvores.
O espaço em instituições escolares não deve ser alienado, pode e deve ser povoado com “coisas” e materiais das crianças que ficam neste espaço. Fotos, desenhos, pinturas e trabalhos devem estar expostos para mostrar “a cara” do grupo que ali se encontra. Devemos registrar, povoar o nosso espaço com as nossas marcas. O ambiente deve ser desafiador.


“ Aquilo que é vivência minha, junto com as crianças, não é possível expressar tudo isto se as paredes da sala estão nuas ou decoradas (alienadamente) com as figuras de Mônica ou Pato Donald desenhadas apenas por mim. A linguagem do lugar deve comentar as histórias e as relações acontecidas ali. É nesse sentido que o espaço é retrato ( e registro) da minha prática ...” (FREIRE,1986:97).
Da mesma maneira, a sala de trabalho deve satisfazer as necessidades das crianças e não dos adultos. Os brinquedos e materiais devem ficar de fácil acesso para as crianças, as estantes devem estar na sua altura para que elas tenham autonomia de pegar os materiais. Caso contrário, de que adianta falarmos em crianças críticas e autônomas se nem isso elas puderem fazer?
“Ao organizar o espaço em função da criança com estantes baixas, possibilitando o livre acesso aos brinquedos e materiais, permitindo o movimento corporal e favorecendo a interação, estaremos atuando na formação de uma criança autônoma, que pode escolher e optar pelo que deseja realizar”. (SME,1996:27)
Na medida em que o espaço vai se estruturando, provavelmente enfrentaremos desafios, como o tempo (parece não sobrar tempo para as crianças explorar estes espaços); o pequeno espaço da sala; o fato desta ter que abrigar ações tão diferenciadas (brincar, dormir...), etc. O “livre” acesso aos brinquedos também é um desafio a ser enfrentado pois há um longo período de transição entre uma organização que não permite nenhuma iniciativa por parte das crianças, ficando estas sempre dependentes do adulto lhes dar o material – como geralmente tem sido nos dias de hoje-, e lhes dizer o que fazer e esta outra organização na qual os materiais e os espaços estão à disposição das crianças o tempo todo.
Existem muitas ‘andanças’ para a transformação de um espaço que não permite nenhuma iniciativa por parte das crianças, no qual o adulto é o centro. Neste percurso, a presença do educador para mediar as relações é fundamental devido á necessidade de se construir com o grupo um jeito funcional do uso destes espaços e materiais. O adulto assume então duas funções: uma nos bastidores, quando prepara e organiza os espaços/materiais longe das crianças e outra, no palco, mediando as relações.
O espaço organizado e a brincadeira são instrumentos que favorecem e contribuem para a construção e consolidação do grupo e também para a ampliação e construção de conhecimentos. O espaço torna-se construção do grupo: seu espaço, de cada um e de todos ao mesmo tempo. A brincadeira possibilita interações que por sua vez proporcionam aprendizagens, trocas, ajudas, competições, crescimento. Conflitos existirão sempre, e a partir deles o grupo vai crescendo e aprendendo...

Janina Stumm Moritz - Pedagoga / Psicopedagoga

Nenhum comentário:

Postar um comentário